Rádio Mais Brasil

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Vemos, Ouvimos e Lemos. Não Podemos Ignorar...


 "Penso: Algo tem me olhado direto na cara. E ainda não sei o que é" (J.M Koetzee, " À Espera dos Bárbaros"

Acompanhando os protestos e as manifestações que se esparramam pelo Brasil, muitas são as questões que nos saltam aos olhos e merecem uma análise mais aprofundada.  A título de colaboração, arrisco palpitar sobre algumas questões que considero importantes. A primeira delas : É absolutamente impressionante a imensa quantidade de pessoas que se mantém alheias à questão. Como se isso não fosse problema delas, como se fosse outro país, ou como se fosse mais uma das novelas que passam na televisão, e essa muito chata porque não tem romances,  nem "gente bonita". A segunda, é que, de modo mais geral, mesmo entre os que estão discutindo a questão, o viés é binário e maniqueísta. Vândalos X Ordem, 20 centavos X 25 bilhões, burgueses desocupados x estado "democrático" de direito. Para aquele que, como advertia Saramago, podendo olhar vê, e podendo ver repara, parece muito claro que, parafraseando Caetano, brasileiros finalmente sentem que alguma coisa está fora da ordem, que algo se quebrou, está se quebrando. E o que se quebrou foi o mito da "democracia paz e amor brasileira", sustentado historicamente sobre as ridículas e falsas bases do país do futuro, do país da integração religiosa e étnica, do país do povo pacífico e ordeiro, alegre e disposto a morrer de fome, de raiva e de sede com um sorriso no rosto, desde que morresse chutando uma bola ou dançando samba. Acabou. Está acabando. O futuro chegou,  o país prometido não. Amadurecemos, acordamos do sonho de Alice. Não se diz que grandes poderes trazem grandes responsabilidades? Então, é hora de assumir que não estamos cumprindo com as nossas. Até quando vamos aceitar calados, em nome de um suposto conforto e desenvolvimento, que nos mantenhamos sempre nos últimos lugares dos rankings de educação e qualidade de vida em geral, mas ao mesmo tempo em primeiros lugares nos de corrupção e ineficiência das instituições e órgãos públicos e de infraestrutura? Os 25 bilhões ( alguém acredita que seja mesmo só isso?), os R$ 0,20 centavos, são só a ponta visível desse imenso iceberg que não vemos, mas que começa a se mover em direção à nós. Rota de colisão inevitável. Crônica de uma morte anunciada.  Não estamos bem. Dizem que estamos bem. Vá ao mercado e pegue ônibus todos os dias, você verá. Tente ser atendido pelo SUS. Se viver até lá, você verá. Somos,  sempre fomos, uma ilha da fantasia. Perdão mestre Pessoa, pela apropriação indevida, mas o Brasil é uma doença das nossas idéias.  Não o vemos como é, mas como querem que o vejamos. Creio que estamos todos acordando desse insano sono. O Brasil que sonhamos acordado é uma grande Utopia? Ótimo, atrás dela!! Vamos realizar o possível enquanto corremos atrás do impossível. Como está hoje, possíveis são 25 bilhões para alimentar ainda mais nossa megalomania alienada. Impossível é a redução de 0,20 centavos na tarifa do ônibus que transporta o mundo real todos os dias. Vinte centavos não justificam as manifestações? Estranho, pois parecem ser justificativa suficiente para se por em marcha os aparelhos repressivos do estado, dando mostra bem clara de que, para os que aí estão, atravancando nosso caminho, povo educado é povo calado. O que virá quando estivermos em marcha pedindo que se aplique 25 bilhões na saúde e educação? As balas continuarão sendo de borracha? Pensemos sobre isso. Afinal, vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar...

 

Cantata da paz

"Vemos, ouvimos e lemos.
Não podemo ignorar!
 Vemos, ouvimos e lemos
 Relatórios da fome
 O caminho da injustiça
 A linguagem do terror

 (...)

 Nada pode apagar
 O concerto dos gritos
 O nosso tempo é
 Pecado organizado
 

Sofia de Mello Breyner

 (1919-2004)

terça-feira, 11 de junho de 2013

GEMINIANO


GEMINIANO

Todos os dias
Ano após ano
Geminiano, que sou
Eu creio, depois duvido
Questiono, busco o sentido
E pergunto, pra onde vou?

Todos os dias,
Eu junto, depois separo,
O simples do que é raro,
O barato, do que é caro,
O que é pedra, o que é marfim
Avanço, mas depois paro
E pergunto, de onde vim?

E todos os dias,  reparo
Que todos os dias preparo
Um dia que não seja assim.
Mas todos os dias eu falho,
Pois todos os dias eu caio,
Nas redes que armei pra mim...


LIVRE


LIVRE

Da superfície ao fundo

Não apenas do mundo

Não apenas de tudo

Mas do que por tudo se

Entende,

Livre

é quem  olha e repara,

A liberdade prepara

Enquanto a algo

Se prende

Livre

É quem livre se declara

E quando a liberdade

Se  aclara

à liberdade

Se rende...

 

 

 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

VOCABULÁRIO DO TEMPO


 
O tempo diz sim
A quem o afaga
Talvez, a quem o agrada
Diz não, a quem o ataca
Às vezes, o tempo estraga
Às vezes, o tempo apaga
Nem sempre o tempo acaba
Nem sempre, o tempo agrava
O tempo sempre sabe
A exata hora,
De puxar a trava
O tempo sempre emprega
A melhor forma,
A melhor norma,
A perfeita palavra...


( Antonio Augusto Biermann Pinto)